03/04/2021

A história de nosso ateliê jurídico

Há vinte e cinco anos na advocacia contenciosa e preventiva. Mesmo tempo nas salas de aula.

As semanas passavam rápidas, os prazos pareciam diminuir o tempo que necessitávamos para os pareceres e peças processuais, tudo entremeado com reuniões com clientes e idas aos fóruns da cidade para audiências ou consultar os processos: todos os dias! A famosa, e antiga, “barriga no balcão do cartório”. Muitas histórias...

Desde lá, e por uma razão ligada ao nosso perfil profissional, trabalhávamos cada texto individualmente – apesar de alguns casos serem parecidos em relação aos pedidos –, burilando o texto, buscando em nós mesmos e na doutrina ideias relevantes numa abordagem hermenêutica para, na sequência, pesquisar uma jurisprudência que nos satisfizesse: aquelas decisões que analisam o pedido e sua contraposição.

Buscávamos dialeticidade a partir de decisões bem fundamentadas. Assim criamos uma cultura própria de análise. Machado de Assis, Fernando Pessoa, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Elias Canetti, Camus, Saramago, e tantos outros nos alimentavam as reflexões.

Quantas vezes frases como “Se se prolonga por algum tempo, esse processo pode ser encarado como uma espécie de acorrentamento”; ou “Suporta-se com paciência a cólica dos outros”, nos serviram de guia. Canetti na primeira e Machado de Assis na segunda eram testemunhas inteligentes de que uma demora se torna um castigo para aquele que espera um provimento jurisdicional.

Uma noite, muitos anos atrás, e ainda no escritório, pensamos e falamos: “Este escritório parece um ateliê”. Referíamo-nos não só ao espaço físico, mas à criação e produção do escritório. “Este lugar é como se fosse um estúdio de experimentação criativa”, falou Bernardina, provavelmente se lembrando dos ateliês das salas de costura e da arte da alfaiataria.

Fomos ao “Aurélio”, o primeiro à mão na estante de livros e descobrimos na página 222 o conceito: “1. Oficina onde trabalham em comum certos artesão e operários: ateliê de costura. 2. Local de trabalho de pintor; escultor; fotógrafo; etc.; estúdio...

É isso! Somos, criamos, trabalhamos num ateliê “jurídico”, completamos quase juntos.

Naquele momento nasceu a ideia do nome, que gestamos por longos anos, e que agora – depois de uma prática relevante tanto na advocacia quanto na academia – trouxemos ao nosso site fsaproadvocacia.com.

Para nós, não é só uma ideia. É postura de vida. É amor ao trabalho; é entrega e intervenção na luta pela democracia.

Bernardina Furtado e Paulo Abrão