03/04/2021

O cinema argentino e a casa de carnes do bairro

Somos cinéfilos, daqueles que leem os créditos dos filmes enquanto as luzes da sala de cinema já se acenderam e boa parte dos expectadores já bateu em retirada. Assistimos a filmes que fogem do modelo “hollywoodiano de prateleira”, e por essa razão descobrimos preciosidades no cinema turco, argentino, português, cubano, chileno, peruano, taiwanês, chinês, japonês, brasileiro, e por aí vai.

 

Certo dia, na casa de carnes perto de casa, Joel, o açougueiro, que sempre nos atende com uma boa conversa nos perguntou se já tínhamos assistido ao filme argentino “El patrón: radiografía de un crimen”. “Não, não vimos”, respondemos. “Pois assistam”, disse ele.  “Vocês vão conhecer como a maioria dos açougues trata a carne”.

 

Fomos conferir e ficamos estarrecidos. Não só por causa do tratamento dado à carne — que fará com que vegetarianos e veganos reafirmem suas convicções, e deixará alguns carnívoros com “a pulga atrás da orelha” —, mas também em relação ao desumano tratamento nas relações entre patrão e empregado.

 

Tirante a temática de inspiração opressora, há no filme um viés humanista de uma beleza poucas vezes vista. Aliás, linha comum que perpassa o cinema argentino de maneira geral. Ou seja, qualquer enredo possui um viés de cunho psicanalítico que acaba por analisar os vínculos subjetivos das personagens.

 

Fica então a nossa dica: visite o cinema argentino como um todo, e não deixe de apreciar “El patrón: radiografía de un crimen” [Argentina, 2015; escrito por Elias Neuman e dirigido por Sebastián Schindel; elenco: Joaquín Furriel, Mónica Lairana, Guillermo Pfening, Luis Ziembro, entre outros].

Bernardina e Paulo