Somos cinéfilos, daqueles que leem os créditos dos filmes enquanto
as luzes da sala de cinema já se acenderam e boa parte dos expectadores já bateu
em retirada. Assistimos a filmes que fogem do modelo “hollywoodiano de
prateleira”, e por essa razão descobrimos preciosidades no cinema turco,
argentino, português, cubano, chileno, peruano, taiwanês, chinês, japonês,
brasileiro, e por aí vai.
Certo dia, na casa de carnes perto de casa, Joel, o açougueiro, que
sempre nos atende com uma boa conversa nos perguntou se já tínhamos assistido
ao filme argentino “El patrón: radiografía de un crimen”. “Não, não vimos”,
respondemos. “Pois assistam”, disse ele. “Vocês vão conhecer como a maioria dos
açougues trata a carne”.
Fomos conferir e ficamos estarrecidos. Não só por causa do
tratamento dado à carne — que fará com que vegetarianos e veganos reafirmem
suas convicções, e deixará alguns carnívoros com “a pulga atrás da orelha” —,
mas também em relação ao desumano tratamento nas relações entre patrão e
empregado.
Tirante a temática de inspiração opressora, há no filme um viés humanista
de uma beleza poucas vezes vista. Aliás, linha comum que perpassa o cinema argentino
de maneira geral. Ou seja, qualquer enredo possui um viés de cunho psicanalítico
que acaba por analisar os vínculos subjetivos das personagens.
Fica então a nossa dica: visite o cinema argentino como um todo, e
não deixe de apreciar “El patrón: radiografía de un crimen” [Argentina,
2015; escrito por Elias Neuman e dirigido por Sebastián Schindel; elenco:
Joaquín Furriel, Mónica Lairana, Guillermo Pfening, Luis Ziembro, entre outros].
Bernardina e Paulo